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sexta-feira, janeiro 7

Desabafos #5

Dói. Dói-me tanto. Dói-me mesmo. Todo o meu peito, o meu abdómen, a minha cabeça. Doem-me. Como se me tivessem a esmagar com tanto peso. Dói-me muito. E é tanta dor que por vezes nem consigo respirar. É dor. Revolta. Raiva. Socorro. Está sempre frio agora. E eu não me sei aquecer. Está sempre frio, e eu tremo. Imenso. De frio. E já liguei os aquecedores todos. Já fui buscar todas as mantas. E continua frio. Tanto frio. E as ruas, as ruas estão cinzentas. Sujas. Feias. Velhas. E eu esforço-me por olhar para lado e ver algo que valha a pena, mas não vale. Não há nada. Apesar de movimentadas, as ruas estão vazias. Como eu. Estou vazia, e pesada. Pesada, mas vazia. Oca. Quem me dera ser oca. Não ter coração. Não sentir. Mas tenho. E tenho lágrimas. Lágrimas com as quais tantas vezes ao dia batalho para que não caiam. E por mais que eu tenha vencido batalhas, elas avisam-me sempre que vou perder a guerra. Que é impossível guardá-las dentro de mim. Que um dia vou rebentar.
Ainda não decidi nada. Não sei tomar decisões. Não gosto. Não decidi, se acredito ou não em ti. Não decidi, se luto ou desisto. Não decidi o que dói mais: ver-te ou não te ver; a tua presença ou a tua ausência. Tenho medo do dia em que te encontrar. Porque é tudo preto. E posso não dar por ti. Ou as lágrimas podem aproveitar a minha fraqueza e ganhar uma batalha. Mas também tenho tantas, tantas saudades tuas. E não sei o que magoa mais: se saber de ti, se não saber. Não sei nada, sabes meu amor? Nada. De ti, de mim, de nós. De quem quer que seja. Nada. E tenho tantas decisões para tomar, mas não consigo. Acho que estou à espera de te encontrar e ter de repente todas as respostas; mas, ironicamente, passo os dias com medo de me cruzar contigo.
Também tenho medo, sabes? E não queria. Odeio o medo. Como é que no final, o medo venceu tantos momentos, tantas promessas, tantas palavras? Merda! Eu nunca pedi nada, só que estivesses lá. Foi demais? Se foi, então ainda bem que acabou. Porque eu faria qualquer coisa por ti sem precisar que me pedisses.
E continua a doer. Porque eu gosto tanto de ti. Porque dei tanto de mim a ti. De cada vez que gostamos de alguém, damos algo de nós. E eu gostava de ti várias vezes por dia. Quando te mandava uma mensagem. Quando me lembrava de ti. Quando sorria por causa de ti. Até ao chorar! Quando passeávamos. Quando praxávamos juntos e mandavas aquelas bocas tão foleiras que às vezes só me dava vontade de te bater. Quando nos abraçávamos. Quando nos beijávamos. Quando andávamos de mãos dadas. Quando nos sentávamos lado a lado no sofá. Quando nos deitávamos na mesma cama e deixávamos o resto do mundo do lado de fora da porta. Quando dormíamos lado a lado, agarrados. Quando cantavas para mim. Quando fazias aquele sorriso. Quando te elogiava. Quando me elogiavas. Quando dizias aquelas coisas todas que me deixavam feliz. Quando falavas num futuro. Quando me chegava o teu perfume. Quando olhava para ti. Quando, simplesmente, te via.

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